Uma pesquisa da Cisco do Brasil, uma empresa dos EUA que vende
equipamentos para acesso à internet, mostra que o acesso à internet de
banda larga cresceu 48% entre junho de 2007 e junho de 2008. O Brasil
atingiu a marca de 10 milhões de conexões à internet banda larga. A
expectativa da Cisco era que esse volume só fosse atingido em 2010.
Agora a empresa norte-americana espera que o Brasil chegue a 15 milhões
de conexões banda larga em 2010. O diretor-executivo do Ibope
Inteligência Marcelo Coutinho disse em entrevista ao Conversa Afiada
que o acesso à internet banda larga ainda se concentra na região
Sudeste, principalmente em São Paulo. “Enquanto na região Sudeste você
já tem praticamente 8% das pessoas com acesso a uma conexão banda
larga, na região Nordeste esse número é de apenas 1%. Então a gente vai
vendo que não só a distribuição do acesso à internet, mas também a
distribuição do acesso via banda larga obedece um pouco as disparidades
econômicas e sociais do país”, disse Coutinho.

Segundo Coutinho, a pesquisa da Cisco mostra que o país da América
Latina com maior percentual de acesso à internet banda larga é o Chile,
onde 8,8% da população utilizam esse serviço. No Brasil, 4,4% da
população tem acesso à internet banda larga. E 8% da população de São
Paulo, um número próximo ao do Chile, tem acesso à internet banda
larga. Do ponto de vista comercial, Marcelo Coutinho disse que a
principal mudança que o crescimento do acesso à banda larga vai
proporcionar será na oferta de serviços.“Eu acho que ele permite uma
oferta maior de serviços pela internet. Ou seja, as pessoas podem
interagir com um conteúdo mais rico. Então isso cria oportunidade, por
exemplo, para você fazer demonstrações de produtos específicos para
aparelhos móveis... Eu acho que isso vai ainda abrir um espaço muito
grande principalmente na área de conteúdo áudio-visual”, disse Coutinho.

Leia a íntegra da entrevista com Marcelo Coutinho:

Conversa Afiada – O uso de internet banda larga no Brasil
cresceu 48% em um ano. Eu leio uma reportagem da Folha de S. Paulo. E
sobre esse assunto eu converso agora com Marcelo Coutinho,
diretor-executivo do Ibope Inteligência. Marcelo, o que significa esse
crescimento de 48% em um ano, é um número importante?

Marcelo Coutinho – É um número expressivo, mas ele sinaliza a
consolidação de uma trajetória. Esse ritmo de crescimento já era
bastante intenso. Para você ter uma idéia, em 2006 ele passou de 4, 1
milhões de conexões para 5,7 milhões. Chegou a 7,4 milhões de conexões
no final de 2007, de acordo com os dados da pesquisa da Cisco. E agora
atinge 10 milhões de conexões. Quer dizer, a gente vê que o ritmo de
adesão à banda larga segue de uma forma quase tão intensa, senão mais
intensa, do que o ritmo de adesão à internet.

Conversa Afiada – E essa marca foi atingida antes do que se esperava, não é isso Marcelo?

Marcelo Coutinho – Foi. A expectativa, se eu não me engano,
quando a Cisco iniciou esse estudo, a expectativa era atingir cerca de
10 milhões de conexões em 2010. Quer dizer, isso chegou praticamente um
ano e meio antes do prazo. Acho que isso sinaliza uma série de
fenômenos, não só a importância cada vez maior da internet na vida das
pessoas, à medida que a internet vai se tornando mais presente existe
uma sofisticação de conteúdos e um desejo de um acesso mais intenso,
que aí efetivamente tem que ser realizado via conexão de banda larga,
só a linha discada não permite hoje fazer uma parte muito importante
dos diversos conteúdos, das diversas atividades que estão na internet.
Então, acho que a expansão da internet, a própria sofisticação do uso
da internet explicam essa expansão da banda larga.

Conversa Afiada – Nessa linha do que você falou, que mudança esse crescimento do acesso à banda larga traz para o cenário da internet no Brasil?

Marcelo Coutinho – Aí tem duas coisas. Primeiro, um outro dado
importante que a gente não pode esquecer é o aumento das conexões
móveis. Não especificamente esse estudo, mas existem outros estudos
mostrando um crescimento explosivo também do acesso móvel via redes de
terceira geração ou via chamadas redes WiMax. São tecnologias de acesso
à internet via banda larga sem fio. Acho que esse é um outro dado
importante e acho que para responder sua questão, esbarra também nisso.
Quer dizer, a internet está saindo do computador, está também indo
principalmente para as conexões móveis, em acessos feitos em notebooks,
em ciber cafés, em diversos lugares. E isso muda também a maneira de
usar, não é mais só dentro da empresa ou dentro do ambiente da casa.
Então, as pessoas irão interagir cada vez de uma forma cada vez mais
digital, essa é uma questão, de uma forma mais digital e mais móvel. A
segunda é o consumo de conteúdo áudio-visual: vídeos e coisas similares
via computador e via os aparelhos móveis como os telefones celulares de
terceira geração.

Conversa Afiada – Marcelo, não sei se esse pensamento é correto,
mas você consideraria essa uma terceira geração da internet no Brasil,
a se considerar que a internet discada foi uma primeira, depois o
crescimento do acesso a segunda e essa poderia ser uma terceira?

Marcelo Coutinho – Eu acho que é um pouco cedo ainda. Nós vamos
precisar esperar um pouco mais de tempo para poder ter essa resposta.
As coisas na internet, na verdade, às vezes a gente tem uma impressão
de que elas explodem de uma hora para outra. Na verdade, elas vêm
acontecendo de uma maneira um pouco mais imperceptível e de repente
elas emergem. Acho que essa explosão no acesso à banda larga já vem
sendo registrada. Como eu já falei os próprios dados da Cisco mostram o
avanço bastante agressivo, principalmente a partir de 2005. Então a
gente precisa esperar um pouco para ter condição de responder se
estamos chegando a uma terceira forma de acesso. Agora tem um dado na
própria pesquisa que é interessante a gente destacar que é a questão da
distribuição do acesso dentro do país. Enquanto na região Sudeste você
já tem praticamente 8% das pessoas com acesso a uma conexão banda
larga, na região Nordeste esse número é de apenas 1%. Então a gente vai
vendo que não só a distribuição do acesso à internet, mas também a
distribuição do acesso via banda larga obedece um pouco as disparidades
econômicas e sociais do país. A própria pesquisa da Cisco, que não é
realizada só no Brasil, é realizada na América Latina toda, o país com
maior percentual de acesso à banda larga é o Chile, com 8,8% da
população com acesso. No Brasil, a nossa média está em 4,4%. Agora, na
região Sudeste, especificamente no Estado de São Paulo, ela já atinge
praticamente 8%. Então, a gente vai vendo como esses dados vão
mostrando as disparidades do acesso dentro do próprio Brasil, que é um
problema a ser enfrentado não só pela iniciativa privada, mas também
pelo setor público.

Conversa Afiada – Isso não tem um pouco a ver também questões técnicas, Marcelo?

Marcelo Coutinho – Eu não sou um expert em área técnica. O que
eu posso dizer é que, provavelmente, questões como a distância,
quantidade de pessoas que você consegue conectar em uma antena de
transmissão, se você está falando de uma conexão móvel, ou numa
determinada rede de cabos, a densidade provavelmente é maior no Estado
de São Paulo, que, enfim, você tem muita gente com essa capacidade. Mas
eu desconheço os aspectos técnicos. Acho que eles refletem e com
certeza vão repetir a mesma disparidade econômica e social.

Conversa Afiada – Marcelo, do ponto de vista comercial, qual a importância do crescimento do acesso à banda larga no Brasil?

Marcelo Coutinho – Eu acho que ele permite uma oferta maior de
serviços pela internet. Ou seja, as pessoas podem interagir com um
conteúdo mais rico. Então isso cria oportunidade, por exemplo, para
você fazer demonstrações de produtos específicos para aparelhos móveis.
Ou seja, vamos supor que eu entro numa loja qualquer, estou interessado
num assunto, não tem vendedor ali, mas posso, via um telefone celular
de terceira geração acessar outros usuários que utilizam esse produto,
ver uma demonstração desse produto. Eu acho que isso vai ainda abrir um
espaço muito grande principalmente na área de conteúdo áudio-visual. É
claro que não é a mesma coisa, não se trata simplesmente de pegar um
conteúdo produzido para televisão e jogar ele na tela de um celular, o
resultado provavelmente vai ser ruim. Você vai ter que adaptar, você
vai ter que criar filmagens em ângulos talvez mais fechados, você vai
ter que condensar histórias. Mas eu acho que essa é a grande fronteira
do conteúdo agora, esse conteúdo móvel via banda larga, via acesso
rápido.
Clique aqui para ler o estudo da Cisco do Brasil.


Fonte: Conversa Afiada - Paulo Henrique Amorim